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Jornalismo policial: o que estamos consumindo?


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Você já parou para pensar por que consome os tipos de conteúdo que consome? Nos tempos atuais, em especial com a facilidade de acesso trazida pela internet, pelas redes sociais, pela boa e velha TV e por outras tecnologias da informação e da comunicação, é natural ignorarmos esse tipo de questão quando vamos consumir determinado tipo de conteúdo (assistir a uma série ou um filme, ler um livro ou uma notícia, ver um vídeo ou algo semelhante). Simplesmente clicamos em um link, apertamos um botão ou rolamos a tela para baixo e o conteúdo está ali na nossa frente: fácil, rápido, prático, mas nada reflexivo. E assim, muito do nosso consumo não tem a mínima razão de ser.


Mas qual é o problema disso? Afinal de contas, o hábito de ver um ou outro conteúdo ruim parece inofensivo. "Que mal isso pode fazer?", normalmente pensamos - ou não pensamos, simplesmente consumimos. No entanto, aos poucos, o tipo de conteúdo com o qual entramos em contato vai moldando nossa cabeça, nossas ideias e percepções sobre o mundo, sobre quem somos perante os outros e perante o ambiente em que vivemos e sobre a vida em geral. Em outras palavras, os conteúdos com os quais temos contato formam nosso caráter, influenciando nossos pensamentos e comportamentos como pessoas e, consequentemente, como sociedade. Para entender como somos frutos daquilo que vemos e ouvimos, basta lembrar de quando éramos pequenos e nossos pais nos contavam aquelas historinhas com uma moral muito claramente definida.


Assim, quando nos deparamos com algum conteúdo, devemos nos fazer algumas perguntas para saber se vale a pena consumi-lo ou não. Qual moral aquele conteúdo nos passa? Em outras palavras, qual é a visão de mundo que ele nos traz? Qual perspectiva ele produz sobre o ambiente em que vivemos e as pessoas com as quais convivemos? É claro, nem tudo precisa ser consumido por seus aspectos morais - sob pena de nos tornarmos muito chatos. Às vezes consumimos simplesmente porque é legal e, nesse caso, está tudo bem. Mas ainda assim, nos resta perguntar: o conteúdo que estamos consumindo é legal? Que tipo de sentimento ele alimenta? Ele nos traz sensações boas ou ruins? Como fica nosso estado emocional após consumi-lo? Prazer e euforia ou ansiedade, medo e depressão?


Alguns tipos de conteúdo sobrevivem (e triunfam, levando seus produtores a conseguirem rios de dinheiro) nos dias atuais somente porque não nos fazemos esse tipo de pergunta - pelo contrário, consumimos sem nos perguntar nada. Vários exemplos poderiam ser mencionados, passando pelas mais distintas mídias e pelas mais diversas temáticas. No entanto, um campo específico da atuação humana parece constituir um ponto mais sensível que os demais: o jornalismo, especialmente em seu gênero dedicado à cobertura de crimes e investigações, o jornalismo policial.


Por que devemos saber que fulano matou ciclano cruelmente, sendo fulano e ciclano dois desconhecidos moradores de um lugar do qual nunca ouvimos falar? Será mesmo essencial saber disso? Uma informação dessas mudará nosso dia? Nos transformará em pessoas melhores? Que tipo de moral uma cobertura jornalística desse tipo de evento nos passa? Qual visão da humanidade (e da sociedade) é estimulada por ela? Temos uma sensação boa ao clicar no link de uma notícia ou reportagem (ou vê-la na televisão) e ficar sabendo dos detalhes da cena?


A resposta a essas questões varia de pessoa para pessoa e, é claro, de notícia para notícia (ou reportagem para reportagem), mas é importante ao menos fazê-las. Evidentemente, existem veículos de comunicação honestos que cumprem com maestria o objetivo de nos informar sobre os acontecimentos fundamentais da sociedade. Esses acontecimentos podem envolver, em circunstâncias muito específicas, alguns crimes e investigações. Por isso, este não é um texto defendendo o fim do jornalismo policial - apenas seu consumo e produção responsável.


De qualquer maneira, em regra, os conteúdos do gênero estimulam, em quem os consome, sentimentos como raiva e medo. Além disso, costumam promover uma visão negativa sobre a humanidade (mostrando apenas o que temos de pior, isto é, nosso potencial como criminosos) e sobre o ambiente em nosso entorno (retratando-o como um ambiente perigoso e inseguro, gerando a sensação da iminência de maus acontecimentos). Por outro lado, eles normalmente não nos fazem sentir euforia ou alegria depois de consumi-los. Por fim, em sua maioria, também não nos trazem nenhuma informação relevante.


Em resumo, em uma análise geral, a maior parte do conteúdo produzido pelo gênero do jornalismo policial parece apresentar um saldo bastante negativo para as pessoas e para a sociedade (tão mais negativo, aliás, quanto mais apelativa e sensacionalista for a matéria produzida). Afinal, a ampla difusão desse tipo de conteúdo acaba contribuindo para criar uma sociedade baseada no medo e no ódio, na qual as pessoas têm uma visão negativa da humanidade e do ambiente no qual vivem e, desse modo, deixam de confiar umas nas outras. Portanto, precisamos repensar se vale a pena consumir cada notícia ou reportagem do gênero que aparece em nossa frente. Talvez seja melhor privilegiar conteúdos que tenham uma visão mais positiva das coisas e das pessoas e exerçam um efeito melhor em nossos sentimentos e na formação de nossas personalidades.

 
 
 

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