top of page
Search

Não cancelarás: 3 motivos práticos (e 1 religioso) para superar a cultura do cancelamento

Um dos traços marcantes de nossos dias é a chamada “cultura do cancelamento”. Se você acessa a internet com frequência, provavelmente já sabe do que se trata – e talvez até já tenha cancelado alguém ou sido cancelado algum dia. Basicamente, o “cancelamento” é uma espécie de censura coletiva, um julgamento moral negativo realizado por toda a sociedade (ou por grande parte dela) sem oportunidade de defesa para o acusado. Na verdade, quando ocorre o cancelamento, os termos “acusado” e “culpado” são sinônimos.


A pena para o cancelado normalmente se limita ao ostracismo social (a pessoa cai no conceito de todo mundo, passando a ser vista como um vilão, alguém para se evitar qualquer tipo de contato), o qual costuma durar somente algumas semanas. No entanto, em certos casos, a duração pode ser maior ou as consequências podem ser piores e mais duradouras (podendo envolver desde a perda de um emprego até o ajuizamento de processos judiciais contra o cancelado).


De qualquer forma, com penas maiores ou menores, mais rápidas ou mais duradouras, a cultura do cancelamento é a sistematização dessa prática. Os motivos para cancelar alguém normalmente passam por opiniões ou atitudes com as quais não concordamos – desde coisas banais, como gostar de determinado filme, série, artista ou programa televisivo, até coisas mais relevantes, como seguir determinado político ou proferir falas preconceituosas. Com raiva da opinião ou da atitude, a turba violenta procede ao cancelamento sem pensar duas vezes – especialmente no ambiente online.


Mas será que o cancelamento é a melhor forma de responder a uma opinião ou atitude da qual não gostamos? Ou será que é melhor exercitarmos o perdão e procurarmos conviver com as diferenças (ou, no caso de opiniões e atitudes que realmente devam ser mudadas, como aquelas que perpetuam preconceitos, procurarmos outra forma de alterá-las)?


Em uma sociedade predominantemente cristã como a nossa, a resposta pode ser encontrada na palavra e no exemplo de Jesus Cristo. Em sua passagem pela Terra, Jesus fez do não-julgamento uma filosofia de vida e um ponto central de sua doutrina (vide Mt 7:1-5), inclusive perdoando uma mulher pega no flagra em ato de traição (vide Jo 8:1-8, a famosa passagem do apedrejamento da mulher adúltera). Por isso, ser cristão é perdoar. Fazer a outra pessoa cair no ostracismo na primeira desavença é simplesmente incompatível com essa religião.


Por outro lado, seja você cristão ou não, existem 3 motivos práticos fundamentais para evitar o cancelamento:


1. O cancelamento só causa sofrimento à pessoa cancelada: ninguém fica feliz ou tranquilo quando sofre o ostracismo social. Esse tipo de punição pode até se esgotar rapidamente na maioria dos casos, mas ainda assim deixa marcas muito profundas. Ser mal visto por todo mundo ao seu redor faz você se sentir um lixo e questionar o seu valor enquanto ser humano. Por isso, essa é uma das penas mais cruéis às quais alguém pode ser submetido, o caminho mais rápido para a depressão e outras formas de adoecimento mental.


2. Se a cultura do cancelamento continuar, um dia é você quem vai ser cancelado: todo mundo erra algum dia. Todo mundo tem alguma opinião ou atitude com a qual a maioria da sociedade não concorda. Isso sempre foi assim e sempre será. No entanto, hoje em dia, como vivemos na era da informação e estamos conectados durante todo o tempo, as crenças e ações de todo mundo se espalham muito mais rapidamente. Um dia, alguma opinião ou atitude sua inevitavelmente vai irritar alguma pessoa ou grupo poderoso o suficiente para ditar a pauta nas redes sociais – e aí, prepare-se para sentir os efeitos do cancelamento.


3. O cancelamento não muda ninguém, só reforça as crenças e ações da pessoa cancelada: vamos supor que a pessoa cancelada realmente não tenha agido de uma forma legal ou tenha uma crença com efeitos ruins para a sociedade. Cancelá-la vai fazê-la mudar? Pelo contrário, isolar alguém parece apenas ser um modo de fazer a pessoa reforçar suas opiniões e atitudes. Talvez seja um mecanismo de defesa, talvez seja pelo fato de que aquela pessoa, ao ser isolada de todo o restante da sociedade, passa a ser acolhida somente por pessoas de opiniões e atitudes iguais. De qualquer maneira, a crença ou ação cancelada se fortalece – e já há casos, inclusive, de pessoas que viraram personalidades influentes (e até mesmo políticos) ao bater o pé e reafirmar a opinião ou atitude após ser cancelada.


Portanto, na próxima vez que se deparar com uma atitude ou opinião que te faça raiva, pense antes de cancelar a pessoa. Exercite a paciência, o perdão e a compreensão e ajude a superar a inefetiva e tóxica cultura do cancelamento.


ree

 
 
 

Comments


Follow

  • Facebook
  • Instagram

©2018 by Submundo das Ideias. Proudly created with Wix.com

bottom of page