O amor como estratégia de combate ao ódio
- Igor Ferreira
- May 17, 2020
- 2 min read
O que fazer quando o ódio e o desprezo à vida se tornam política de governo? Como reagir quando ocupantes dos principais cargos políticos constroem suas carreiras com base no ataque às minorias, no incentivo à violência e na apologia à ditadura? E se, para piorar, os líderes da nação debocharem de uma situação de pandemia que causa centenas de mortes no país a cada dia (talvez milhares, considerando a subnotificação presente nos dados oficiais)?
A reação mais provável é o ódio. Como um reflexo, ao sermos atacados, passamos a odiar também. É completamente normal que isso aconteça e ninguém deve se sentir culpado por isso – colocar a culpa naquele que reage, e não em quem age, seria algo semelhante a culpar o oprimido pela opressão, a vítima pelo crime.
Entretanto, mesmo com relação às ações alheias sobre as quais não temos controle nenhum, ainda temos certo poder sobre a reação. Afinal, a reação acontece dentro de nós mesmos, em nossas mentes, dependendo de nossos sentimentos e sensações (que nem sempre controlamos), mas também de nossas percepções racionais (cujo controle possuímos por completo). Embora nosso poder seja limitado, ele existe. Logo, até certo ponto, somos capazes de quebrar a inércia e estimular outras reações, diferentes do ódio inicialmente esperado.
Nessa possibilidade de reagir de forma diferente pode estar contida a principal estratégia para combater a política do ódio. A razão é simples: o ódio se alimenta de mais ódio, mas acaba sendo abandonado quando as pessoas percebem a força e a satisfação trazidas pelo sentimento oposto – o amor. Em outras palavras, a superação dos desafios atuais passa por uma atitude valorizada em diferentes tradições políticas e religiosas – presente tanto no movimento de independência da Índia liderado por Gandhi quanto na tradição cristã (ver Mt 5:43-48 e Lc 6:27-36): o esforço para amar o inimigo.
Evidentemente, amar não significa concordar com as atitudes de exaltação ao autoritarismo, à violência e à morte (nem sequer significa se acomodar frente às opressões diárias do capitalismo, mas isso poderia ser assunto para outro texto inteiro). É fundamental, em nome da vida e do próprio amor, continuar lutando. Essa luta, porém, tem chances maiores de dar certo se realizada de modo compatível com o amor: nada de provocações, ataques gratuitos a quem contribuir com o ódio, generalizações ou julgamentos (em geral, conduzidos por um desejo pessoal por vingança). Em vez disso, o diálogo, a escuta e a compreensão são os melhores métodos para que cada pessoa se sinta acolhida pelo amor e deixe de agir com base no ódio – seja essa pessoa um simples apoiador ou o ocupante de algum importante cargo político.
Não se trata de uma atitude simples. É necessário muito esforço para quebrar a inércia e neutralizar o ódio que surge em cada um de nós como consequência das políticas atuais. Ainda assim, é uma possibilidade – uma estratégia inesperada que pode acabar recompensando os esforços necessários por conta de seus brilhantes resultados.

*Imagem disponibilizada na página “The Ultimate Confrontation” no portal Wikipédia (em inglês). Link para o acesso: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Ultimate_Confrontation.
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