Por que devemos conhecer o passado?
- Igor Ferreira
- Sep 9, 2018
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Igor Ferreira
No último domingo, o Brasil assistiu a uma das maiores tragédias da história da ciência: o incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro. Se por um lado não foi perdida nenhuma vida, por outro lado se perderam inúmeros saberes. A tragédia foi causada pela falta de manutenção no museu, motivo pelo qual foram levantados diversos questionamentos quanto à política de corte de investimentos em educação do governo federal. O incêndio destruiu grande parte do acervo de mais de 20 milhões de itens. Para entender a dimensão das perdas, entretanto, é necessário entender porque cultivamos o conhecimento e, principalmente, porque relembramos o nosso passado.
Dentre outras razões (variáveis de acordo com cada pessoa ou sociedade), construímos e mantemos o saber porque o conhecimento liberta. Em qualquer área de estudos, conhecer a teoria é ampliar as possibilidades de ação na prática. Evidentemente, a profundidade desses efeitos positivos e sua maior ou menor propagação em determinada sociedade dependem de escolhas políticas (a profundidade será maior se o conhecimento não for utilizado como método de opressão e de exclusão social; do mesmo modo, a difusão será maior se o saber não for limitado a uma pequena elite). Ainda assim, o conhecimento traz, na própria essência, a liberdade em um de seus sentidos mais originais – a potencialidade de agir sobre o mundo para mudá-lo.
Quando se trata de conhecer o passado, há ainda um outro fator a ser considerado: a construção de uma memória, isto é, de narrativas do passado a partir das quais surgem as narrativas que explicam o presente e determinam o futuro. Trata-se de saber quem fomos para identificar quem somos e descobrir quem desejamos ser – bem como quais aspectos do passado queremos manter e quais não desejamos repetir. Logo, sem saber sobre nosso passado, somos menos capazes de tomar nossas próprias decisões, de modo que nos tornamos mais manipuláveis, menos capazes de resistir àqueles que tentam nos dominar e decidir por nós.
Portanto, os danos causados pela tragédia do último domingo vão muito além da perda de um local de visitação – ou de um importantíssimo local de trabalho para historiadores, biólogos e arqueólogos. O que se perde, dentre outras coisas, é parte de nossa liberdade e de nosso poder de tomar decisões autonomamente. Consumada a tragédia, resta-nos apenas agir para que não sejam medidos esforços e investimentos para evitar novos acontecimentos semelhantes. Assim, impedimos que pouco a pouco seja apagado nosso passado e, consequentemente, tenhamos uma apagada existência no presente e no futuro.
Bom tópico. Foi uma semana de terríveis tragédias nesse país. A reflexão sobre suas origens e efeitos é realmente necessária.