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É hora de praticar a democracia


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As ocupações nas escolas em 2016 nos forneceram bons exemplos de como praticar a democracia. Créditos da imagem: Pragmatismo Político

Igor Ferreira


Hoje é dia de eleições no Brasil. A primeira palavra que vem à cabeça de muitas pessoas quando se fala em eleições é ‘democracia’. De fato, o voto costuma ser considerado o principal instrumento de participação democrática do cidadão na política. Essa relação pode ser problematizada de muitas maneiras (um sistema representativo jamais é realmente democrático), mas isso é assunto para outro texto, já que agora não é o melhor momento. De qualquer modo, independentemente do resultado do pleito eleitoral, a democracia já entra em campo perdendo. Por isso, mais do que nunca, é hora de praticá-la – o único jeito de reverter o placar.


Só essa semana, pelo menos 3 fatos atestam o momento desfavorável vivido pela democracia no Brasil: a homenagem a uma vítima do racismo, da intolerância política e da violência policial foi cruelmente e orgulhosamente destruída; um livro que retrata histórias de uma família no exílio durante a ditadura foi retirado da lista de leituras de uma escola depois de um abaixo-assinado promovido pelos pais dos alunos; um professor universitário foi atacado por um aluno (que arremessou uma mesa na direção do docente) por trazer à classe uma reflexão sobre fascismo. As manchetes não param por aí e as situações noticiadas nos jornais são só alguns entre milhares de exemplos cotidianos dos recentes ataques à democracia no país.


A solução para o problema não passa pelo voto no candidato A, B ou C (evitar a eleição de fascistas tem uma inegável importância, porém não resolve de vez a situação). A defesa dos valores da democracia não se faz de 4 em 4 anos, mas sim a cada dia. No melhor estilo “faça você mesmo”, cada pequena ação conta. Mas então, como praticar a democracia?


Antes de mais nada, é preciso uma participação ativa nas decisões e, principalmente, nos debates sobre as matérias que nos dizem respeito – desde questões hoje consideradas públicas, como a saúde e a educação em um local, até a construção de eventos e de organizações sociais ou mesmo comportamentos individuais, tudo é passível de debate. Nesse ponto, é extremamente importante parar de deixar terceiros tomarem as decisões por nós, afinal temos mais capacidade de decidir sobre nossas próprias vidas do que determinado deputado, presidente ou ditador.


Além disso, decidindo por nós mesmos estaremos aprendendo a ser autônomos e recusar decisões autoritárias. Sabe aquele chefe que diz ser necessário seguir as escolhas tomadas por ele “porque ele é seu chefe”, sem dar maiores explicações e argumentos para sustentá-la? Se houver a possibilidade, não siga esse chefe (e obviamente, quando estiver em uma posição de liderança, não seja esse chefe). Esse é o primeiro passo para aprender a resistir a líderes autoritários, protegendo a democracia.


Outro ponto importante é saber participar dos debates. Embora seja essencial falar, é ainda mais necessário ouvir. Não dá para querer impor a própria opinião a qualquer custo. Ao invés disso, é preciso considerar as alternativas trazidas pelas outras pessoas e então, conjuntamente e com base nos argumentos trazidos, decidir pela melhor opção. Assim, estaremos aprendendo a ser respeitosos.


Evidentemente, o respeito é imprescindível não somente no debate, mas também em outras situações. Logo, outro jeito de praticar a democracia é dar uma dura naquele seu amigo que fez uma piada machista/homofóbica, é parar de ofender aquela pessoa gorda demais, magra demais ou feia demais (até porque a beleza é subjetiva).


Portanto, praticar a democracia é bem fácil. São muitas as opções de ação para começar, todas elas muito simples. Paradoxalmente, também é bem difícil. A prática exige um esforço constante, cotidiano, e às vezes pode ser bem mais chata e angustiante do que simplesmente apertar um botão de 4 em 4 anos. Entretanto, o esforço vale a pena, pois somente cultivando hábitos democráticos conseguimos proteger a democracia. Fica a dica para resistirmos a esse momento tão sombrio. A resistência democrática é possível, basta acreditar e praticar.

 
 
 

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